Relações Abusivas
- Francine Volpi
- 15 de abr. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 21 de abr. de 2021
Quando falamos sobre relações abusivas, falamos sobre relações entre duas ou mais pessoas onde no mínimo uma delas sofre prejuízos físicos, emocionais, sexuais e/ou financeiros.
Podemos ser levados a pensar logo na configuração de um homem exercendo poder (es) sobre uma mulher, mas o contrário também é verdadeiro e também em outras configurações de relacionamentos entre seus pares e as muitas formas de “amores”.
A verdade é que dentro dessa dinâmica uma pessoa acredita ter mais direitos sobre a outra e essa outra acredita por alguns vários motivos que isso é real. Nesse sentido somos levados a refletir sobre o que cada indivíduo dentro dessa realidade pensa e espera de si mesmo e do outro.
Desde quando nascemos, somos bombardeados por influências de vários contextos como a cultura, a relação estabelecida com nossos cuidadores e à medida que crescemos essas influências se expandem para a escola, trabalho, amigos e pares e então começamos a formar nossa identidade, nossas crenças sobre nós mesmos, os outros e o futuro.
Falar sobre relação abusiva é, desde sempre, um assunto muito complexo e como tal não se tem respostas diretas e muito menos concretas, onde falamos de aspectos dos mais variados e com muitos tons de complexidades, como a de classes sociais e diversas patologias, por exemplo.
Sendo assim, com prudência e cautela, gostaria de trazer uma reflexão sobre um fenômeno da psicologia chamado de idealização, que ocorre com frequência em grande parte dos relacionamentos vividos.
Como o próprio nome já diz é um ideal criado por nós mesmos à partir das nossas vivências, nossos desejos, nossos quereres e que esperamos do outro o mesmo tipo de comportamento e pensamento sobre determinada pessoa e/ou situação, tanto no caso do abusador, quanto do abusado.
O abusador estabelece esse critério muitas vezes de uma forma mais impositiva, mas o abusado também perpetua o ciclo de abusos através da idealização quando alimenta expectativas do tipo: “é só uma fase”, “mas ele(a) me ama, isso vai mudar”, “ele(a) não é assim, só está nervoso(a)”, e justifica o outro na espera de uma mudança que corresponda ao seu ideal.
O ideal alcança o plano do irreal, da fantasia do perfeito, do “amor romântico” observado no livro We de Robert A. Jonhson (dica de leitura ;) ), onde é projetado conteúdos das nossas vivências ao longo da vida em alguém que cruza o nosso caminho ao longo da nossa existência. Uma forma de se realizar através de uma outra pessoa.
Como se pode perceber, algo dessa natureza não poderia trazer nada menos que uma imensa insatisfação. Insatisfação consigo mesmo e também com o outro, pois não estamos em contato com nossas reais necessidades e ainda exigimos que alguém seja o que ele não é, e sim quem queremos que esse outro seja.
Nesse sentido tudo o que esperamos do outro está em nós mesmos, esperando para ser trabalhado para que nos tornemos mais completos e seguros, a ponto de se perceber frustrado e não precisar destratar ou até mesmo maltratar alguém e/ou se submeter a alguns tratamentos (muitas vezes os papéis de abusador e de abusado se alternam dentro da mesma relação).
Provocar essa reflexão entre o ideal e o real é um dos diversos pontos a serem trabalhados dentro das mais possíveis formas de relacionamento consigo mesmo e com o outro, e que pode trazer para cada um dentro da relação formas mais saudáveis de ver a si mesmo e o todo nas suas mais variadas formas.
